Viver em Dakar, um estudo sobre a habitação e o desenvolvimento futuro do Senegal

Lançada pelo Goethe Institut, Habiter Dakar (Habitar em Dakar) é uma exposição virtual que aborda a habitação na capital senegalesa. O estudo foi liderado por Nzinga Mboup e Caroline Geffriaud, ambas arquitetas baseadas em Dakar. Elas observaram que a atual oferta habitacional da cidade está particularmente distante das necessidades de seus habitantes, seja a nível cultural, social ou ambiental.

As arquitetas analisaram a progressão que havia ocorrido no desenvolvimento da paisagem urbana e nas moradias da capital senegalesa, desde o tradicional estilo de vida até os atuais modelos internacionais de moradias que parecem desconectados da realidade cotidiana da maioria dos habitantes da cidade. O estudo centra-se na Habitação, que é uma parte essencial da formação e evolução de Dakar e sugere importantes reflexões teóricas e concretas para o futuro desenvolvimento da metrópole africana.

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As principais considerações sobre habitação foram analisadas por meio de seis temas diferentes:

  • Importância do conforto físico
  • O lugar da vida comunitária nos espaços públicos
  • Uso de espaços exteriores privados
  • Diferenças no vocabulário de habitação
  • Espaços de exposição
  • Modularidade, extensão e mutação do pré-construído

No contexto urbano restrito de Dakar, essas questões foram estabelecidas como ferramentas para explorar uma política de habitação prática e uma melhor qualidade de vida para os habitantes.

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Cronograma da Habitação em Dakar _ Dos complexos de Lebu ao mais recente plano de 100.000 unidades de habitação social do presidente Macky Sall em 2019.. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Como ponto de partida fundamental, Mboup e Geffriaud revisaram os antecedentes históricos da habitação em Dakar. Estabelecendo o desenho da vida pré-colonial como o modelo original, elas analisaram o exemplo da população Lebu. A tribo reunia membros de uma família extensa vivendo juntos em uma área semelhante a um "complexo habitacional", construída em torno do pátio central. A organização do espaço incluía vários quartos privados - usados ​​principalmente para dormir - e seria cercada por espaços externos funcionais para animais, preparação de alimentos, etc. Essa tipologia inicial ficou conhecida como Penc.

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Planta Espaço Composto (Keur) de Patrick Dujarric _ Waan: Cozinha _ Borom keur: Casa do proprietário _ Khambe: Altar _ Panterr ou Caq: Depósito ou despensa _ Neeg: Sala espacial _ Mban: Cerca _ Wanak: Área sanitária _ Hett: Pátio. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Durante a época da colonização, um novo plano urbano foi importado e implementado às custas das aldeias Lebu, que foram forçadas a se mudar. No entanto, a paisagem urbana colonial se mostrou incompatível com o estilo de vida das populações africanas. Na verdade, o plano urbano ortogonal era radicalmente oposto às formações orgânicas existentes naquela época e destacava as distinções entre o estilo de vida rural africano e urbano europeu.

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Coabitação entre comunidades e emergência de um urbanismo contraditório. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

A arquitetura colonial é bastante relevante quando se considera a progressão da habitação em Dakar e suas normas de conforto fisiológico. Isso refletiu em como os colonos tiveram que desenvolver tipologias habitacionais que se adaptassem ao clima combinando materiais locais, ao mesmo tempo em que mantinham padrões de vida equivalentes aos das cidades europeias da época. No entanto, mudanças de planejamento mais importantes ocorreram após a Segunda Guerra Mundial.

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Os planos urbanos coloniais estavam em completa oposição à tipologia de compostos orgânicos pré-existentes. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Após a independência em 1960, o estado senegalês centrou-se na habitação como projeto primordial para o desenvolvimento da cidade. Os planos de massa evoluíram e levaram à criação de novas ruas e áreas residenciais para as crescentes classes sociais de Dakar. Agências nacionais (SICAP e SNHLM) foram criadas para construir projetos residenciais nesses novos bairros. O resultado foi uma variedade de tipos de habitação para os habitantes da classe média. Novas estéticas e inclinações modernistas foram importadas de modelos internacionais de arquitetura. Isso foi acompanhado pela adoção de ideais sociais estrangeiros também, como a família nuclear e as pessoas solteiras que precisavam de residências particulares. Outra novidade foi o uso de concreto em vez de materiais de construção adaptados ao clima de origem local. No entanto, os esforços nacionais de construção começaram a declinar na década de 1980, abrindo caminho para o investimento privado em empreendimentos habitacionais.

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Criação de duas agências nacionais: SICAP e SNHLM para garantir uma abundante produção habitacional. Imagem Cortesia deHabiter Dakar

Todas as intervenções históricas anteriores resultaram em três tipologias habitacionais distintas que ainda são vistas em Dakar: o complexo habitacional, a casa / pavilhão individual e os edifícios de apartamentos. Cada um apresenta características próprias, mas todos lutam para responder à necessidade mais urgente dos habitantes, que é a expansão sustentável. Compreender esses modelos é fundamental, pois são testemunhos de uma visão antecipatória que não foi plenamente realizada, talvez devido a uma introdução apressada em um ambiente e cultura inadequados.

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Bubble House por Wallace Neff. Imagem Cortesia de Jeffrey Head

Depois de explorar a história arquitetônica de Dakar, Mboup e Geffriaud passaram a analisar as características que poderiam explicar a atual situação habitacional na cidade e suas possíveis ramificações sugeridas.

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Declínio do SICAP e SNHLM (agências nacionais) e aumento de investidores privados. Imagem Cortesia de Moustapha Mbengue

Conforto fisiológico em uma casa em Dakar

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Edifícios que geram desconforto térmico, visual, olfativo e acústico. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Ao procurar acomodação na cidade, o conforto fisiológico raramente é levado em consideração. Fatores térmicos, visuais, acústicos e outros relacionados aos sentidos são frequentemente ignorados em favor de plantas padronizadaos que podem obstruir a luz natural e a ventilação. Essas configurações trocam o conforto do morador por uma estética que responde a um ideal unânime de uma cidade moderna.

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Composição típica de uma casa Dakar _ Estrutura de concreto moldado _ Paredes de blocos de cimento _ Tetos de blocos ocos _ Acabamento de gesso de cimento. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Esse dilema abre espaço para várias questões sobre técnicas arquitetônicas passivas e viáveis ​​que poderiam aliviar o desconforto causado pelo uso de tipologias e materiais padronizados em construções existentes. Nesses casos, a reintrodução de materiais de origem biológica e outras ideias de design complementares podem ser um caminho a seguir.

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Worofila (Senegal). Imagem Cortesia de Worofila

Outro meio de mudança sugerido é multiplicar e dar exposição a projetos de construção bioclimática, pois essas edificações podem abrir caminho para um setor mais sustentável.

Espaços de convivência comuns em ambientes públicos

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Marginalização e subestimação das áreas de convivência dos bairros. Imagem © Frédéric de Woelmont

Em Dakar, os espaços públicos são degradantes e oferecem muito pouco espaço para reuniões comunitárias. Um dos motivos destacados na exposição foi a ocupação de calçadas com uma infinidade de atividades domésticas e comerciais privadas (por exemplo, cozinhar ao ar livre, exposição estendidas das vitrines das lojas…). As atividades comunais, antes tradicionais, foram marginalizadas na ausência de espaços abertos. Esta consciência levou as arquitetas a questionarem: na ausência de autarquias locais para mitigar a ocupação dos espaços públicos pelas Habitações, porque é que os habitantes não se organizam para criar os seus próprios espaços de atividades comunitárias?

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Playground. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Uso de espaços exteriores privados

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Lebu Compound _ 1500/1900 _ 29% Espaços interiores e 71% Espaços exteriores. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Seguindo os modelos históricos delineados, os espaços exteriores práticos nas casas contemporâneas passaram de 70% para menos de 10% nas novas configurações, sugerindo que se tornou mais um acessório do que uma área funcional como era antes. Por outro lado, os interiores foram ampliados com uma média de 14 a 18m2 de área adicional. O último pode ser uma das complicações ao destinar espaço para práticas domésticas tradicionais comuns ao ar livre. Como dito acima, essas tarefas domésticas tendem a se espalhar pelas ruas, muitas vezes causando desconforto aos moradores do entorno.

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Moradia Coletiva _ 2000/2020 _ 90% Espaços interiores e 10% Espaços exteriores. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

Como uma rota sugerida, a vida coletiva em Dakar poderia ser melhor em "compostos habitacionais verticais". Eles teriam áreas internas ligeiramente reduzidas mais uma vez, em benefício de áreas externas maiores que podem ser privadas ou compartilhadas entre os coabitantes.

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Tipologia ficcional _ Considerando a utilização do espaço exterior com celebração, convívio e outras áreas funcionais. Imagem Cortesia de Habiter Dakar

O vocabulário da habitação

Outro tópico interessante explorado no estudo é o glossário de habitação. Nesse caso, as arquitetas explicam como o vocabulário arquitetônico contemporâneo, sendo ele universal, omite muitas noções locais verbalizadas relacionadas ao uso e atribuições espaciais. Dado que apenas 37% da população senegalesa é bilíngue, isto significa que poucos o podem aplicar, o que muitas vezes obriga o resto dos cidadãos a viver em modelos que não se adaptam aos habituais.

Uma vez que a linguagem está relacionada à cultura, um passo importante no desenvolvimento da arquitetura senegalesa é implementar a redação em wolof também no vocabulário da construção contemporânea.

Não se trata de criar um vocabulário totalmente novo para substituir as palavras francesas, mas de analisar e descrever as funções tradicionais associadas a essas palavras universais.

Espaços de exposição

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Sala. Imagem © Malick Welli

O quinto tema surge como uma exposição visual dos chamados espaços representativos. Como em muitas outras culturas, as casas senegalesas ainda refletem funções recentemente adotadas, geralmente apreciadas por indivíduos mais jovens e membros da classe média. Salas de estar, "cozinhas americanas", salas de jantar ou mesmo banheiras são habitualmente espaços de distinção que podem servir para evidenciar um espaço habitacional moderno e sugerir uma determinada posição social. Em alguns casos, as funções exibicionistas podem ocupar muito espaço, causando desconforto para famílias numerosas.

Para refletir sobre esses espaços representativos, Nzinga e Caroline convidaram o fotógrafo Malick Welli para retratar esses lugares raramente usados.

Modularidade, extensão e mutação do pré-construído

As arquitetas, por fim, analisaram os meios de expansão para o futuro de Dakar. Para elas, a modularidade do espaço e a forma como pode ser desenvolvido para acomodar o crescimento da unidade familiar devem estar integradas a uma política habitacional funcional. Na hiper-densificada cidade de Dakar, a expansão das casas pré-fabricadas ainda é mais valiosa do que as construções novas. A reflexão “adicional” é uma ideia importante quando se pretende expandir o ambiente construído com uma construção de boa qualidade. Habiter Dakar oferece muitos modelos potenciais, integrando elementos essenciais para um projeto habitacional sustentável e em constante crescimento.

Antecipar o crescimento futuro e tomar medidas preparatórias para facilitar eventuais construções verticais é um grande passo para proporcionar uma vida confortável e manter áreas abertas ao nível do solo. Essas ações poderiam garantir uma vegetação funcional, venerada como sagrada em certas comunidades.

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Proteção do sagrado _Plantando árvores sagradas e maximizando suas chances de sobrevivência. Imagem Cortesia de Eric Ross

A exposição conclui sugerindo um Futuro Incremental como recomendação final (Incrementalismo como forma de aplicar mudanças adaptativas menores). Não se trata mais de fornecer modelos e unidades habitacionais, mas de facilitar as fundações básicas e as medidas administrativas para que os habitantes de Dakar possam construir suas casas, não como um produto acabado, mas como um projeto potencial de crescimento interno.

Aplicado à Arquitetura, o Incrementalismo, em um contexto urbano informal, daria uma estatura formal aos habitantes que não dispõem de recursos para proporcionar um desenvolvimento adequado.

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Método ELEMENTAL_ Modificações pós-mudança. Imagem Cortesia de ELEMENTAL

Nota: A tradução das fotos e diagramas pode ser encontrada na descrição das imagens. Confira a exposição completa e outras descobertas na conta do Habiter Dakar no Facebook.

Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: O Futuro das Cidades. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Abdel, Hana. "Viver em Dakar, um estudo sobre a habitação e o desenvolvimento futuro do Senegal" [Living in Dakar, A Study of Senegalese Housing & Future Development] 09 Mar 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/958093/viver-em-dakar-um-estudo-sobre-a-habitacao-e-o-desenvolvimento-futuro-do-senegal> ISSN 0719-8906

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